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Por que temos dificuldade para entender a canção de concerto ou a ópera?


Concebemos a canção popular como extensão estética da fala. No fundo, isso quer dizer que, quando falamos, pretendemos que quem está nos ouvindo preste atenção no que estamos falando e não em como estamos falando, por exemplo: se nossa voz é aguda ou não; se nosso sotaque é muito acentuado etc.

Quando cantamos, ao contrário, damos ênfase à expressão, ou seja, damos mais importância à maneira como é dito aquilo que é dito; no entanto, sem dispensar o entendimento do texto verbal. Temos, então, a fala como a função utilitária e o canto como a função artística (estética) dos sons produzidos pelo aparelho fonador.

As partes do corpo envolvidas na produção da fala são os pulmões, traqueia, laringe, epiglote, cordas vocais, glote, faringe, véu palatino, palato duro, língua, dentes, lábios mandíbula e cavidade nasal. Todo esse aparato utiliza as correntes de ar, que serão modificadas por articulações desses órgãos, por exemplo: para falar vogais deixamos passar mais ar. Para falar consoantes obstruímos um pouco essa passagem. Enfim, a função principal desses órgãos é falar. E, quando falamos, nossa força de emissão das palavras é pequena porque, salvo situações extraordinárias, nosso interlocutor encontra-se a uma pequena distância.

No entanto, quando um cantor de ópera coloca todo esse aparato em função do canto, ele emite a palavra cantada numa intensidade que gira em torno de 90 decibéis, para atingir um público de aproximadamente 1000 pessoas e suplantar a energia de emissão (volume) de toda a orquestra. Dessa maneira, altera a articulação dos órgãos do aparelho fonador, que, como já disse, foi feito para falar. O resultado é o comprometimento da inteligibilidade do texto. Por várias vezes, em cursos e palestras, solicitei ao público que identificasse (sem citar o nome e autoria da obra) a língua em que é cantada a “Ária (cantilena) da Bachianas Brasileiras nº 5”, de Villa-Lobos. Ouvi as respostas mais variadas, mas nunca que se tratava da língua portuguesa. Além disso, as óperas são cantadas geralmente em italiano, alemão e russo, fato que, juntamente como o argumento aqui apresentado, talvez seja a primeira barreira que se põe à frente do ouvinte “não iniciado” na canção de concerto.

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